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Raio-X: disco de Léo Nascimento é antídoto contra a alienação

Por: Gustavo Morais

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Mineiro de berço, mas radicado em São Paulo, Léo Nascimento é cantor, compositor, arranjador e produtor. Eis um agitador cultural, simples assim! Em outubro de 2018, o artista lançou o disco “Invento o Cais”.

Um disco de música genuinamente brasileira (Divulgação)

Ao longo de 20 músicas, o repertório do álbum mescla canções autorais com trabalhos de alguns compositores brasileiros de diferentes gerações, como Vitor Ramil, Kiko Dinucci, José Miguel Wisnik e Milton Nascimento. Em seu Palco MP3, Léo optou por divulgar mais da fatia autoral do trabalho.

Léo Nascimento é a cara da novíssima música brasileira (Foto/Divulgação)

A sonoridade é acústica: voz, violão de 8 cordas, clarinete/clarone, contrabaixo acústico e percussão. Meio samba, meio choro, meio funk, meio jazz. Uma música “tupiportoguaranifricana”, isto é, uma obra visceralmente brasileira! As canções falam sobre o amor, conflitos pessoais, relações humanas e paisagens do cerrado mineiro. Na faixa “Ciranda”, música que abre o disco, Léo já mostra o bom gosto pelos arranjos. Com seu timbre potente e vulcânico, o artista instantaneamente seduz o público a ouvir as demais canções da obra.

Na sequência, “Vento Sul” mantém a singularidade da música das Gerais. Impossível não lembrar de Bituca, de João Bosco e de todos os outros “mineiros maneiros”. Já em “Final Feliz”, o clima bucólico sai um pouco de cena e dá espaço para uma sonoridade mais ensolarada. Por sua vez, “Vias de Fato” tem a capacidade de despertar no ouvinte um raro tipo de experiência sensorial. É como se a canção fosse uma instigante encenação teatral, ou seja, nos rendemos à emoção proporcionada por cada movimento.

O cais não inventado de Léo Nascimento (Foto/Encarte do CD, por Guga Ferri)

Outro momento interessante do disco é a faixa “Coração Violado”, cuja letra é uma modalidade diferente de “sofrência”. Como não resistir ao charme da simplicidade dos versos “Procuro achar a harmonia/Pra te manter na melodia”? A hipnotizante “5 de Novembro” é a música que não permitirá que o cidadão se esqueça do “caso Bento Rodrigues”, a maior tragédia ecológica do Brasil. Guardada as devidas proporções, esta canção é uma espécie de resgate do experimentalismo sonoro que marcou o começo das carreiras de Geraldo Azevedo, Alceu Valença e Zé Geraldo.

Por fim, mas não menos importante: o álbum é um festival para os sentidos. Em tempos incertos, bélicos e traiçoeiros, a música para ser dançada com corpo e com a mente é um antídoto contra a alienação. Com muito louvor, Léo Nascimento consegue fazer esse tipo de arte. No final das contas, o cidadão brasileiro é quem sai ganhando com o conteúdo musical de “Invento o Cais”. Por mais discos assim na novíssima música brasileira…

Gustavo Morais